Happiness.Documentary

Olá! Este é o blog oficial de divulgação do documentário que estou fazendo: #HappinessDocumentary e outras divulgações de meu interesse.
Eu já tinha este blog desde 2008. Apenas mudei o nome para o nome do documentário e mantive as publicações anteriores para que as pessoas possam me conhecer um pouco mais.

sexta-feira, dezembro 30, 2011

DIÁLOGOS CLARA E GERUSA

Se os vampiros realmente existissem, quase todo mundo iria querer ser um nos dias de hoje

Recentemente, em uma viagem a trabalho, para Fortaleza, fiquei, mais uma vez, hospedada na casa de uma grande amiga, daquelas como poucas, tipo uma irmã de alma.

Jornalista, também fez doutorado na Espanha, no mesmo programa que o meu. Bem, o fato é que com ela podemos conversar de igual para igual, temos muitas idéias parecidas sobre quase tudo.

E acreditem, eu e ela temos uma mesma capacidade de viajar muito nas coisas, entrar fundo, de pirar, alucinar, enfim, de sermos muito viscerais, profundas nas coisas. Desta vez falamos muito de trabalho, de relacionamentos, de pessoas. Até aí normal, todo mundo fala destes temas o tempo todo. O que me fez querer escrever sobre as nossas conversas é a forma como falamos, a profundidade de como as coisas se nos apresentam. Na verdade vamos escrever para nós mesmas, mas a idéia é que se provocar alguma discussão, concordância ou discordância sobre o que colocarmos aqui, tá valendo. Se a história reverberar, beleza, se não, legal também porque é um registro nosso de nossas conversas, então, tá valendo do mesmo jeito.

Uma das conversas que tivemos e que vale a pena reproduzir aqui é que a morte deixou de ter os papeis sociais que ela tinha e passou a ter um único: o medo de envelhecer. A morte está associada ao envelhecimento e não mais como um processo da vida, um ciclo natural de morte e vida, um acúmulo de experiências que deveriam levar à sabedoria que compensa a perda da beleza. Se bem que o conceito de beleza é outra tema que mudou muito...

Eu comentava com ela de um filme, comédia americana, “Casamento de mentirinha”, filme bem tolinho mas que fala de cirurgia plástica e o desespero das pessoas para fazerem qualquer coisa que retarde o envelhecimento. Então tem uma cena engraçada, talvez a única, em que o personagem principal,que é cirurgião plástico, vai a uma festa de um amigo, também cirurgião plástico, e ele está completamente sem expressão no rosto de tanto botox. Tem um tipo de sorriso fixo na boca, tipo do curinga, e uma hora ele pede uma bebida com canudinho e tem dificuldade de acertar o Candinho na boca. Ele ri, chora mas as feições do rosto não se alteram.

Lembramos de algumas atrizes e atores que estão passando por uma transformação por causa das plásticas e estão transformando os rostos e corpos e ficando horríveis. Ela também lembrou do último filme de Pedro Almadóvar, “A pele que habito”e fomos montando coisas nas nossas cabeças sobre este tema, fazendo links com um outro filme recente que vi, o novo filme sobre o livro do Oscar Wilde, o Retrato de Dorian Gray. Muito legal o filme. Claro que o filme, assim como o livro e o primeiro filme, fala de vaidade, de questões éticas, valores morais, arrogância, prepotência, poder, vaidade e juventude eterna etc.

Sabe, é como outro filme que deu origem a uma série, Highlander, em que a vida é eterna, como dos vampiros, mas só pode haver um highlander e ele tem que cortar muitas cabeças para poder ser único e permanecer eterno. É tipo isto, para sermos highlander não importa quantas cabeças temos que cortar para permanecer jovens e de preferência ricos,, porque o conceito de beleza também está associado à posse, aos bens, às roupas, móveis, carros, computadores, enfim, marcas. Em Fight Club Edward Nortan tem uma cena brilhante, onde ele coloca esta necessidade que nos impomos de ter coisas para podermos ser respeitados. É uma inversão total de valores.

Seria bacana se a sabedoria que me refiro, que deveria vir com os anos, como envelhecimento, nos desse esta espiritualidade de aos poucos irmos nos desprendendo destes conceitos, de nos desprendermos das coisas matérias, da arrogância e percebermos que o conhecimento serve para termos humildade de reconhecer que não se sabe nada.

Cada vez mais cedo as pessoas estão tentando retardar o envelhecimento e tá meio que se tornando uma obsessão.

Aproveitando esta onda de filmes e séries de vampiros, estávamos falando que se por acaso os vampiros passassem a existir ninguém se importaria com as questões éticas e morais que têm pro traz do tornar-se um vampiro: perder a alma para tornar-se um ser eterno, que nunca envelhece desde que possa se alimentar de sangue. Temática também muito bem tratada no Retrato de Dorian Gray e em Fight Club.

Com certeza mais da metade da população aceitaria, sem pestanejar, ser transformada em vampiro, ainda que o preço seja perder a alma, para poder permanecer jovem para sempre.

É claro que por trás das várias lendas de vampiros também existe um apelo sensual, uma virilidade, um poder de sedução quase beirando o romantismo se ele não estivesse associado a alguém das trevas, do mau. Tanto que os filmes atuais de vampiros estão romantizando os vampiros e colocando-os como seres melhores, menos “diabólicos”, com certos princípios morais e éticos.

No último sábado antes do Natal fui a um asilo fazer umas doações e enquanto estava lá vi uma velhice feia, cheia de doenças, de abandono. Bem, como diz a música, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Na verdade este refrão, me dá a impressão que também é pensado assim quando se é jovem. Lá no asilo tinha um senhor com câncer de pele que não parava de gemer. Fiquei pensando que uma das coisas que torna a velhice feia é a doença, a perda da capacidade de poder agir e pensar por si e ter que depender de alguém. E olhando todos aqueles velhinhos, além de me perguntar por que eu estava lá, porque eu precisava daquilo, em que ir como voluntária a um asilo pode fazer bem a mim e aquelas pessoas que estão lá, me perguntava também o quê aquelas pessoas fizeram das vidas delas. Eu explico. Como vegetariana que sou e acredito que boa parte do que somos está relacionada com o que comemos, em como levamos a vida, em como respeitamos a natureza e tudo que está inserida nela, a começar por nós mesmos e todo o restante. Se as pessoas entendessem isto e passassem a dar mais ouvidos para seu corpo, entendessem que somos parte de um todo e respeitassem mais a si próprios, passariam a respeitar os outros. Entendendo que os outros não são só as pessoas mas tudo, natureza, animais, meio ambiente. Se fosse assim tenho certeza que as pessoas adoeceriam menos e fariam menos mal ao próximo.

Existem dois paradóxicos com relação aos velhos, não só no Brasil, mas por todas partes que andei, de que por uma pessoa ser velha isto dá a ela uma conotação de “boazinha”, o contraponto é a falta de respeito que existe com os velhos, o descaso.

Bem, envelhecer deveria ser algo digno, encarado com naturalidade e, de preferência, sem tantas doenças. Mas voltando aos meus questionamentos do asilo, me perguntava até onde aquelas pessoas estão, de repente, colhendo o que plantaram. Pode ser que tenha gente lá, no asilo em questão, que seja do bem, mas também temos que considerar que “aqui se faz, aqui se paga”, ou, indo mais além, se formos considerar quem acredita em reencarnação, talvez estejamos pagando aqui erros do passado. Não importa a teoria, mas acredito que parte das doenças estão relacionadas à vida desregrada, falta de alimentação adequada, falta de meditação, da compreensão do nosso próprio corpo. A outra questão é que acho sim que doenças também estão relacionadas com nossos atos, de como tratamos os outros.

Existe um terceiro fator, que também é inegável, é a predisposição genética, a herança genética que já vem conosco, mas, mais uma vez, acredito que até ela podemos ter controle se soubermos cuidar da alimentação.

Bem, voltando ao tema do envelhecimento X juventude, pergunte-se a si mesmo se realmente existissem vampiros e se um te perguntasse se queres te tornar imortal e jovem para sempre, qual seria a tua resposta e, o mais importante, no caso da resposta ser afirmativa, por quê? O que te leva a querer ser jovem para sempre? Eu sei que é muito difícil nos desprendermos das coisas materiais, mas é aí que reside toda a sabedoria. As etapas da vida não existem por acaso. É assim com tudo e com todo ser do planeta e fora do planeta.

Outro dia conversando com um amigo com quem também tenho como falar de igual para igual, falava para ele que me resultava muito estranho que as pessoas não tenham o hábito de se perguntarem o porquê das coisas, algo que para mim vem no automático, desde criança – tanto que muitos enchiam o saco desta minha característica - . Por exemplo, uma pessoa não nasce com pré-conceitos. São valores que ela vai adquirindo em função do meio que vive, algum trauma, algo que tenha despertado tal reação. Pois ela não se pergunta o motivo pelo qual, em que ponto ela começou a ter aquele preconceito. Uma pessoa racista, por exemplo, não costuma se perguntar por que a cor de uma pessoa incomoda tanto ela, se na verdade o que importa é o caráter. Bem, pelo menos o que deveria importar.

E mesmo com coisas que aparentemente parecem normais, como tietagem, ser fã de alguém, de algum grupo etc. A pessoa começa a alimentar este comportamento. Ela não se pergunta por que gosto tanto deste grupo, desta pessoa? Qual a necessidade que eu tenho de ficar colecionando coisas, de ficar horas em uma fila, de chorar? Não são comportamentos normais. É normal gostarmos de artistas, em geral, mas daí a ter estes comportamentos extremados, é lógico que algo de errado está na pessoa que passa ter isto na sua vida como m ritual, quase como uma religião, um fanatismo desmedido. É assim com a religião, futebol, a necessidade de ficar bonito a qualquer custo etc. Estas coisas não podem te dominar, serem maiores que tu, ocupar toda tua vida, mas acontece muito.

E então, voltando ao tema da juventude, da beleza e do envelhecimento, isto também acontece desta forma. Não nos perguntamos por que é tão importante permanecer jovens e belos. As pessoas não se dão conta que existe uma ditadura, uma imposição, relacionada ao consumismo.

A gente tem que fazer um resgate histórico e começar a pensar, a se perguntar quando esta imposição da beleza jovial começou, em que contexto histórico e como isto foi sendo absorvido por todos nós. (Clara, dezembro 2011).