Happiness.Documentary

Olá! Este é o blog oficial de divulgação do documentário que estou fazendo: #HappinessDocumentary e outras divulgações de meu interesse.
Eu já tinha este blog desde 2008. Apenas mudei o nome para o nome do documentário e mantive as publicações anteriores para que as pessoas possam me conhecer um pouco mais.

segunda-feira, abril 19, 2010

LEGALIZAÇÃO DA MACONHA NO BRASIL. CERTO OU ERRADO?

Tema polêmico, mas vamos lá. Este fim de semana estive conversando com um amigo que é policial e trabalha justo no combate ao narcotráfico pelo Brasil todo. Perguntei a ele o que ele achava da legalização da maconha e ele disse que era contra porque na Holanda é liberado e agora estão com vários problemas sociais por causa disto. A Holanda é outro país, em outro continente e com realidade cultural diferente. Eu pergunto: problemas sociais? Será que são piores que os nossos problemas sociais causados pelo trafico de drogas? Tudo está começando a acontecer mais cedo em nossas vidas. É um processo social normal para os tempos de tecnologia avançada em que vivemos. Globalização, tecnologia, mudanças muito rápidas e cada vez mais cedo aprendemos a lidar com tecnologia. Acontece que as mudanças não se dão só no lado “bom” da coisa. A criminalidade também está começando cada vez mais cedo. Já é normal encontrar crianças de 10 anos carregando fuzis, fazendo papel de mula, contrabandeando, roubando e usando drogas etc. A expectativa de vida na criminalidade é muito baixa. A criança que nasce e cresce em boca de fumo, em local de tráfico por mais honestos que sejam seus pais, é difícil não ter como referência o traficante que está cheio de dinheiro, roupas de marca, carros, mulheres, ostentando uma riqueza muito distante da realidade da criança e de sua família. Ela vai olhar para o pai lixeiro, pedreiro, peão da construção civil, a mãe doméstica, diarista, mãe solteira (nem vamos entrar em outras questões polêmicas como a legalização do aborto, a laqueadura de trompas não permitida antes dos 30, falta de programas educacionais sobre sexo etc). Todas profissões honradas mas que dificilmente são suficientes para que seus filhos mudem este ciclo vicioso. Quando a criança vê seus pais ganhando o suficiente para comer, e muito mal diga-se de passagem, e o traficante ganhando em uma semana o que seus pais nunca ganharão em um ano, qual será a referência dele? O traficante, é claro.
Não sei qual a solução ideal mas acho que com a que temos os resultados continuam nada positivos, então,penso que seria o momento de tentarmos algo novo. Pelo menos tentar. Se não der certo pensamos em outra solução. É claro que o problema é de base e bem mais complicado do que se pensa,mas acho que é uma discussão válida em que não podemos jogar para os políticos decidirem. A sociedade toda deveria participar deste debate e tentar achar uma solução, sem demagogia, sem falso moralismo. As drogas existem. Ponto. Existem, usuários e não vão parar de existir. Ponto. O consumo não tem diminuído nos últimos anos. Ponto. Então?... Mandar a polícia entrar nos morros, favelas, pontos de fumos e agir com força, repressão, não resolve. Quando a polícia consegue fazer um bom trabalho nas comunidades, fica a falta de manutenção destes trabalhos sociais e tudo volta.
Vejam bem. Quando se fala em legalização as pessoas pensam logo em algo bagunçado, em pessoas fumando assim ao Deus dará. Não é assim. Com relação ao cigarro mesmo temos uma série de regras que basicamente valeriam, também, para o uso da maconha, como não fumar em local fechado (“proibido uso de cigarros e assemelhados neste recinto”, não é assim que está em elevadores, por exemplo?) Não se deve pensar logo no cigarrinho de maconha ‘apertado” e sendo passado na rodinha e sim em todo o processo, desde o plantio. Para os mais desavisados, da planta, cujo nome científico é Cannabis Sativa, se pode extrair uma série de coisas benéficas ao homem. Inclusive roupas,pequenos móveis e utensílios podem ser feitos da fibra da planta. Além disto, uso medicinal, mais do que comprovado, estudado no mundo todo. O caule possui fibras industrialmente importantes, conhecidas como cânhamo; e a resina tem propriedades psicoativas bem documentadas podendo atuar como analgésico, anódino, antiemético, antiespasmódico, calmante do sistema nervoso, embriagador, estomático, narcótico, sedativo, tônico.
Para fazendeiros plantarem, as regras de plantio que já existem continuariam e, provavelmente, deveriam ter uma licença especial para este tipo de plantio, mas vejam bem, seria uma nova e rica fonte de geração de empregos, começando no meio rural, com o plantio até chegar às cidades, nos laboratórios, no comércio, nas lojas, artesãos. Tudo com registro, com pagamento de impostos etc. Os laboratórios farmacêuticos de credibilidade poderiam vender para uso medicinal. Antes de comercializar para este fim, claro, fazer pesquisas, testes, criar uma marca brasileira, patentear, gerar lucros para o país.
Morei na Espanha e lá o uso é permitido. A comercialização não Não é legalizado, ainda, mas caminha para isto. E não é assim bagunçado, as pessoas não fumam nas ruas, de qualquer jeito ou a qualquer hora. É para consumo próprio e se usa em alguns bares. Gente que trabalha, estuda, tem família, faz parte de uma família, enfim, todos os tipos de perfis de usuários. Um outro ponto controverso é dizer que a maconha abre portas para depois se usar outras drogas mais fortes e que causam dependência. Acho que é muito relativo e depende unicamente de cada um. Boa parte das pessoas que conheço que fumam maconha só usam maconha. Se já experimentaram outras drogas é outra conversa. É o famoso livre-arbítrio que existe com ou sem legalização.
A partir do momento em que o Estado administrasse a comercialização da maconha o narcotraficante já perderia uma boa fatia deste mercado. O fato de deixar de ser ilegal talvez até diminua o uso porque tem muita gente que vai atrás de emoção, de querer fazer o que é proibido e ache que perdeu a graça.
É fato que o tema é polêmico, por isto mesmo a discussão é válida. Não defendo o uso de drogas mas defendo a idéia de se discutir os problemas sociais. Se existem outras alternativas, vamos colocar em pauta, dar opinião, concordar, discordar, mas não fingir que não existe. Outros temas muito importantes e que a sociedade civil deveria estar atenta e participando porque diz respeito a todos nós sim: legalização do aborto, casamento civil entre homossexuais, redução da maioridade penal no Brasil,meio ambiente e tantos outros. Quem realmente acompanha, sabe o que está rolando, em que pé estão as coisas?

Um comentário:

Flávio Pala disse...

O Brasil encontra-se em uma situação delicada. Somos um povo aberto a novas experiências, que possui há mais de vinte anos a capacidade de escolher e delegar os seus direitos a outros e, ainda assim, vive na alienação e sofre de grande desigualdade social. Nossas crianças estão cada vez mais sendo matriculadas nas escolas e tendo acesso de qualidade a elas, ao passo que também aumenta o número de crianças que precisam crescer mais rápido e começar a trabalhar mais cedo, muitas vezes em condições perversas e que violam a maioria de seus direitos.
Quando preciso pensar em uma solução para os problemas do nosso país, não consigo imaginar outra resposta senão mudar o que está sendo feito, uma vez que já se provou inefetivo. Não adianta aumentar as escolas e hospitais se não oferecemos condições decentes de estudo ou tiramos nossos jovens da vida marginalizada, e nem prestamos serviço médico decente. Não adianta dar ao povo a padaria se ele não tem como conseguir o pão e matar sua fome. Tratar da legalização da maconha é, antes de tudo, tratar de uma possível solução para um problema que não apresenta resposta eficiente, pelo menos até agora, e que pode aparar as arestas de outros problemas.
Se o consumo da maconha fosse normatizado, assim como outras drogas lícitas (falo de cigarros e bebidas alcóolicas, por exemplo), estaríamos nos livrando de um problema encadeado: acabaríamos com traficantes, não haveria grande parte do financiamento para o crime organizado a partir do narcotráfico, e os jovens envolvidos na criminalidade não teriam outra alternativa a não ser retornar às escolas ou buscar um trabalho digno, mesmo que esse seja com o comércio lícito de maconha.
Creio que, dentre outras considerações, a questão aqui tratada não refere-se à utilização de drogas, mas sim a solver um dilema da sociedade, que parece persistir em invadir nossa cúpula intocável e cotidiana.
Enfim, somos humanos racionais, e é difícil nos sensibilizarmos por uma causa a menos que ela bata a nossa porta. Enquanto nossos filhos estiverem alimentados e educados, será difícil pensar no mal causado àqueles que estão na miséria e encontram a questão da sobrevivência. E no contexto que vivemos, essa questão apresenta apenas uma alternativa, que mesmo sendo errada, é a única resposta possível para eles: o crime.