Fui jantar com amigos de longa data, último sábado. O jantar
foi na casa de uma grande amiga, também colega de jornalismo, junto com o outro
grande amigo jornalista. Nós três trabalhamos juntos. Éramos três eventualmente
com alguns outros! Um velho novo amigo também foi, a meu convite. Velho novo
porque há tempos nos conhecemos mas havíamos perdido o contato. E na casa da
amiga, anfitriã, outros amigos da amiga: um casal homoafetivo com sua filha de
cinco anos, adotiva, uma outra jornalista, o marido da anfitriã e o filho
deles, de cinco anos.
Conversa boa, gente inteligente, bem humorada e os vinhos,
que sempre são trazidos pelo colega jornalista, do grupo “éramos três”, também
ajudaram no processo de integração.
Eu resolvi escrever sobre este jantar porque no dia seguinte
fiquei lembrando dos detalhes – eu sempre presto atenção em detalhes,
privilégios (?) da minha área – e me veio à cabeça que eu adoro isto e aquilo.
O isto é estar entre bons amigos com boa comida, boa conversa e boa bebida; o
aquilo eram as pessoas que estavam no jantar com suas nada convencionais vidas,
incluindo a minha.
Eu cheguei aos 40 divorciada, sem filhos, me recuperando de
um câncer maligno, sem um emprego com estabilidade, com o emocional virado do
avesso, fazendo terapia há anos, com as cobranças, mais familiares do que
sociais, de ter que passar em um concurso público, tendo que ouvir os clichês
absurdos que falam sobre mulheres que não querem ter filhos e não querem casar.
Enfim, vou (re) levando...
A jornalista amiga da amiga anfitriã, divorciada, também não
tem filhos biológicos mas tem três filhos do ex marido. Eles se separaram e os
filhos do ex com a ex esposa preferiram ficar com a madrasta. Entendeu?
Explico. Quando ela casou com ele e le era separado e já tinha três filhos. Os
filhos foram morar com ele e a nova esposa. Eles se separaram e os filhos,
enteados da agora também ex esposa, ficaram com ela. Agora me digam se isto não
é ser uma mulher e tanto?
O casal homoafetivo tem uma filha linda de cinco anos,
adotada. Uma garota cheia de vida,
criativa, inteligente, visivelmente alegre. Que ficou brincando com o
filho do casal anfitrião, também de cinco anos e também com as mesmas
características: visivelmente alegre, cheio de vida, inteligente, criativo.
Duas formas bem diferentes de família
mas que ao meu ver são famílias.
O outro amigo jornalista também levou o filho já adulto, mas
conheci ainda criança. Ele, aposentado, foi um dos pais mais presentes que conheci.
Foi pai e mãe ao mesmo tempo, dos casal de filhos que tem. Daqueles que
levantava de noite para trocar as fraldas e fazer mamadeira porque a mãe, mesmo
quando estava fisicamente, nem sempre estava presente. Hoje curte a vida de um
jeito mais que perecido, mas ainda mantém os filhos sob proteção.
O amigo que eu convidei, que há anos não tinha contato,
também colega de comunicação, só que não jornalista, uma pessoa fofa,
encantadora, nada clichê e que reagiu muito bem à surpresa de ir comer na casa
de meus amigos pensando que estávamos indo só ele e eu. Humor apurado, aberto a
conhecer pessoas novas e, como eu, um ser emocionalmente complicado, mas que
está aí, também como eu, dando a segunda
face à vida...
Enfim, éramos pequenas ilhas, cada uma com um sistema muito
complexo de idiossincrasias, formando, naquele momento, uma rede interligada
pelas diferenças. Conforme descrevi acima, éramos pessoas com histórias de vida
muito diferentes mas nossas afinidades e semelhanças se estabeleceram bem ali,
justo pelas nossas diferenças. Nenhum de nós saiu daquele jantar os mesmos.
Saímos melhores, com experiências tão diferentes de vida trocadas e isto
agregou para que tenhamos saído dali seres humanos melhorados. Pelo menos foi
assim para mim.
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