Happiness.Documentary

Olá! Este é o blog oficial de divulgação do documentário que estou fazendo: #HappinessDocumentary e outras divulgações de meu interesse.
Eu já tinha este blog desde 2008. Apenas mudei o nome para o nome do documentário e mantive as publicações anteriores para que as pessoas possam me conhecer um pouco mais.

terça-feira, maio 31, 2016

O que estamos fazendo com nossas crianças?

Em novembro de 2015 estive nos EUA a convite do Google para falar de um projeto que fiz e apresentei em Brasília. Lá na Califórnia conheci uma professora aposentada, francesa, que viaja pelo mundo desfrutando de sua merecida aposentadoria e conversando sobre nossas culturas e da cultura americana, ela me chamou a atenção para um fato atual, real e que merece destaque: a forma como nós todos cobramos, exigimos sucesso de nossas crianças.

Quando voltei escrevi e publiquei um texto aqui no blog e continuei lendo sobre o tema.Recentemente encontrei um trabalho de um jornalista britânico que alerta sobre este mesmo problema e compartilho. Vale a leitura.
Eu sou Clarice, mas todos me conhecem por Clara Santos - Jornalista

A vida das crianças de classe média e alta do mundo inteiro não tem sido confortável. Com a pressão para se destacar entre os colegas, tirar notas altas, fazer diversas atividades extracurriculares, entrar nas melhores faculdades e conseguir os melhores empregos, os jovens hoje sofrem com o fenômeno que o jornalista britânico Carl Honoré descreve como "hyperparenting " ou como poderíamos traduzir, os "hiperpais", que encaram cada vez mais a vida dos filhos como um plano de metas, traçando estratégias e caminhos e lhes subtraindo o potencial para que se desenvolvam de forma independente. "A educação dos filhos não deve ser um cruzamento entre um esporte competitivo e o desenvolvimento de um produto.Não é um projeto, é uma viagem", observa Honoré, autor do livro Sob pressão (Record, 368 págs., R$ 49,90), lançado no Brasil neste ano.

Na obra, o britânico discute as consequências da alta pressão colocada pelas escolas, professores e pais nas crianças, que têm crescido com menos liberdade para fazer as próprias 
escolhas - o que acaba sendo um tiro no pé, pois se tornam adultos pouco criativos e muito dependentes, além de perder a infância e a chance de trilhar os próprios caminhos. "As crianças precisam esforçar-se, lutar e se superar, mas isso não significa que a infância deva ser uma corrida. Elas precisam de tempo e espaço para explorar o mundo em seus próprios termos, e é o papel dos pais manter um cronograma familiar sob controle para que todos tenham tempo ocioso suficiente para descansar, refletir e simplesmente ficar junto", afirma.

Honoré decidiu escrever o livro depois de uma reunião na escola do filho, na qual foi informado pela professora de artes plásticas de que ele "tinha um dom". Dormiu com planos na cabeça de como desenvolver o talento do pequeno, contratar um tutor e torná-lo o próximo Picasso, quando ouviu: "Papai, eu não quero um tutor, eu só quero desenhar. Por que os adultos sempre têm de assumir tudo?". "Então comecei a pensar como é fácil se deixar levar e acabar sequestrando a vida dos filhos", conta. 

Honoré mantém laços profundos com o Brasil: a inspiração para seguir a carreira de jornalista veio depois de um intercâmbio feito no país, quando trabalhou com crianças de rua em Fortaleza. "Ter qualquer criança vivendo nas ruas é algo ruim. Você julga uma sociedade pela forma como trata os seus fracos e desfavorecidos - e, nesse aspecto, o Brasil poderia ser muito melhor do que é." Na entrevista a seguir, à repórter Carmen Guerreiro , ele discorre sobre o papel da escola nesse cenário de alta pressão infantil.

As crianças sofrem apenas com a pressão de seus pais, ou também da escola? 
A pressão vem de todos os lados. Os pais se sentem pressionados a dar aos seus filhos o melhor de tudo e fazer deles os melhores em tudo - essa pressão obviamente se transfere para as próprias crianças. Mas os sistemas escolares também adicionaram mais pressão nos últimos anos por tentar fazer descer goela abaixo mais aprendizado acadêmico mais cedo e mais rápido. Assim, vemos crianças sob pressão para aprender a ler e escrever cada vez mais jovens. E depois há a obsessão com os exames, para que as crianças sejam testadas mais e mais até que as notas se tornem mais importantes do que a própria aprendizagem. É uma visão do século 19, de educação que prepara as pessoas para trabalhar em fábricas ou em empregos estúpidos de escritório. O mundo mudou e precisamos de pessoas mais criativas e flexíveis. Precisamos de uma revolução em nossas escolas.

As escolas também estão sob pressão dos pais? 
Toda a sociedade está mais preocupada com o sucesso acadêmico. Empresários e políticos exigem profissionais mais bem formados. Mas os pais também estão colocando muita pressão sobre as escolas. Estão desesperados para aumentar as chances de seus filhos na vida, por isso exigem um ambiente educacional e resultados perfeitos. É impressionante como os pais de todo o mundo agora vão às escolas para se queixar quando o seu filho não está no topo da classe. Conheço um casal que tirou seu filho de uma escola primária de Londres quando o professor se recusou a incluir a criança no programa de alunos superdotados. Os pais estavam convencidos de que seu filho era o próximo Einstein.

Mas as escolas não estão exigindo demais dos alunos e considerando o insucesso escolar como um fracasso da vida? 
Sim. Em muitos países, agora, as escolas são ranqueadas como clubes de futebol e a competição para obter pontuações elevadas nos exames é feroz. Tenho visto isso com meus próprios filhos. No ano passado, meu filho passou meses só revisando para os exames vestibulares nacionais (ele tinha 11 anos e estava no 7º ano do ensino fundamental). Esses exames não afetam particularmente o seu futuro, mas são a única medida de sucesso para a escola - então as crianças estavam sob intensa pressão para se sair bem. Foi cansativo e chato para eles.

O que os professores podem fazer para mudar esse quadro? 
Os professores estão na linha de frente na batalha contra os hiperpais. Podem reforçá-los ou combatê-los. A boa notícia é que, em todo o mundo, mais e mais sistemas de ensino e cada vez mais professores individualmente estão tomando medidas para reduzir a pressão. É por isso que algumas culturas do Extremo Oriente estão se afastando desse modelo ao cortar horas de aula, lição de casa e a ênfase na avaliação. E é por isso que as crianças na Finlândia, que começam a escola aos sete anos, fazem menos exames, passam menos horas em sala de aula e fazem menos lição de casa do que seus pares em outras partes do mundo, e o país se tornou o queridinho da educação internacional. Mesmo quando um professor está preso em um sistema de alta pressão pode tentar permitir que cada criança aprenda em seu próprio ritmo. Visitei recentemente a escola South Devon Steiner, no sudoeste da Inglaterra, e fiquei impressionado com sua insistência sobre a adaptação aos ritmos de aprendizagem de cada criança - e eles obtêm excelentes resultados. O modelo de educação de Reggio Emilia, na Itália, também é um exemplo brilhante de como desencadear a curiosidade das crianças e sua capacidade de aprender honrando os seus ritmos.

Esse fenômeno de pressão sobre as crianças difere entre países? Ele se aplica à realidade brasileira? 
Vejo as mesmas pressões em países em desenvolvimento ou desenvolvidos. O mundo foi globalizado e as tendências sociais e culturais convergiram. Mas uma diferença é a escala: no mundo em desenvolvimento, hyperparenting ainda é amplamente encontrado apenas na pequena (mas influente) classe média.

Então os hiperpais existem apenas nas famílias mais ricas? 
Principalmente, porque elas têm expectativas mais elevadas e dinheiro para persegui-las. Mas o fenômeno afeta a todos, pois os sistemas de ensino estão cada vez mais sob maior pressão. Quando transformamos a infância em uma corrida, minamos a solidariedade social. Quanto mais as pessoas se tornam obcecadas com o sucesso de seus próprios filhos, menos se preocupam com o bem-estar dos filhos de outras pessoas. E isso é um perigo real, especialmente em uma sociedade como a brasileira, já muito polarizada.

Quais são as consequências desse processo para as crianças?
Podem acabar sendo menos criativas. Elas não têm o tempo ou o espaço para explorar o mundo em seus próprios termos, para aprender a correr riscos e errar. Não aprendem a pensar por si mesmas, apenas fazem o que lhes é dito. Também não aprendem a olhar para dentro de si mesmas e descobrir quem são, porque estão ocupadas tentando ser o que nós queremos que elas sejam. Então nunca crescem. E não aprendem a preencher o tempo por conta própria, por isso ficam entediadas com mais facilidade. Toda essa pressão para ser perfeito e obter a maior nota também está elevando a taxa de estresse e problemas de saúde mental entre os jovens. Pressão demais também tem matado a simples alegria de ser criança - o que [o poeta inglês] William Blake (1757-1827) chamou "ver um mundo num grão de areia... segurar o infinito na palma da sua mão". Transformamos a infância em uma corrida e tiramos muito da sua magia.

Qual sua opinião sobre as escolas de tempo integral? 
É bom que uma escola ofereça o acesso dos estudantes pobres a atividades que não poderiam pagar de outra forma. Mas você tem de ter certeza de que a agenda das crianças não vai longe demais. Dentro do horário escolar e, depois, é preciso ter certeza de que elas têm tempo livre para descansar, refletir e brincar como quiserem. Brincar é muito importante. A brincadeira livre, quando as crianças deixam a imaginação solta e se envolvem em um jogo sem adultos controlando tudo. Esse tipo de brincadeira é crucial para o desenvolvimento do cérebro, ensina habilidades sociais e estimula a criatividade - ambas essenciais para se destacar na escola.

A lição de casa é um elemento a  mais de pressão? 
Lição de casa não é um mal em si mesmo, apenas se as crianças têm tanta lição que não há tempo suficiente para descansar ou brincar. Ou se o dever de casa não consegue exercitar a sua imaginação ou aprofundar seu aprendizado. A maioria das pesquisas sugere que a lição de casa tem valor limitado para crianças de até cerca de 11 anos de idade, então deve ser reduzida ao mínimo. Depois deve envolver a imaginação e obrigar a pensar sobre o que aprenderam na escola sob um novo prisma, ou colocar esse conhecimento em prática. Apenas fazê-los memorizar e repetir a informação é limitado.

Como vê o contraste entre crianças de rua e as de classe média alta no que diz respeito às pressões da vida? 
Ambas estão sob imensa pressão. A criança que sofre com o hyperparenting está sob pressão para ser perfeita, para ser uma "superstar" em tudo o que faz. A criança de rua está sob pressão para se manter viva no mundo violento, onde sua vida recebe pouco valor. Mas todos sofrem com a pressão, porque uma família de classe média alta que está submetendo seus filhos aohyperparenting vai gastar muito menos tempo e energia se preocupando com o bem-estar das crianças de rua. Vão ver essas crianças apenas como uma ameaça para a vida perfeita que estão tentando construir para seus filhos. Há uma ironia aqui. De certa forma, as crianças de rua têm mais liberdade do que crianças de classe média alta porque hyperparenting significa que todas as suas vidas estão programadas, monitoradas e controladas.

Como vê essa questão no Brasil? 
As crianças de rua com quem trabalhei tinham muito tempo livre, nenhum adulto lhes dizia o que fazer. E elas eram resistentes, criativas e autossuficientes. Eram capazes de se virar sozinhas, podiam brincar, fazer sua própria diversão. Em vez de olhar para outras pessoas para pedir ajuda o tempo todo, resolviam seus problemas. São habilidades que o hyperparenting pode negar às crianças. Não estou sugerindo que pais ricos brasileiros mandem seus filhos mendigar nas ruas! A maioria das crianças de rua é o contrário do hyperparenting : precisam de mais amor e carinho, segurança, conforto material, educação formal e estrutura. Só que talvez as famílias ricas possam aprender algo sobre o valor do tempo livre e da independência a partir da vida das crianças pobres no Brasil.

sexta-feira, maio 27, 2016

Classe artística se revolta e fala sobre a violência contra a mulher

"Sangue no olho" de raiva de todo este machismo que existe pelo mundo afora, que variam as formas, as vezes sutis, tácitas, com piadinhas, propostas indiretas, os estereótipos ignorantes de achar que a realização da mulher só pode acontecer de uma forma, ou que uma mulher, se estiver solteira precisa de companhia, dentre outros e as formas mais brutais, horrendas, desprezíveis como o estupro, a violência física e verbal, o assedio e outras tantas formas. O que também me choca e me deixa com "sangue no olho" são os comentários, de homens e mulheres, diga-se de passagem, culpando a vítima. Chega! Basta! Denuncie! (Clara Santos)

O caso do estupro coletivo de uma jovem de apenas 16 anos que chocou o Brasil nesta semana e reacendeu muitas discussões sobre a violência contra a mulher.

Os atores Alexandre Nero e Fabio Porchat aderiram à campanha "homens contra a cultura do estupro".

"Estou fora do Brasil a trabalho e soube o trágico ocorrido da garota que foi brutalmente violentada. Como se o ato, por si só, já não bastasse a nossa indignação, ainda vem com a assustadora notícia medieval de 30/33 homens envolvidos no estupro. Soube disso ontem de manhã. Não me pronunciei por um motivo: vergonha. É isso! A mais sincera coisa a dizer é que fiquei com vergonha", falou Nero em seu perfil no Facebook.

O humorista, que também divulgou a imagem, disse: "Que triste ter que aderir a esse movimento em 2016".

A vítima também fez uma publicação e revelou que acreditava que seria “julgada mal”, mas percebeu que não foi.  "Não, não dói o útero e sim a alma por existirem pessoas cruéis sendo (sic) impunes!! Obrigada ao apoio (sic)", escreveu a adolescente. Leia mais sobre o caso!

Outros famosos também fizeram posts nas redes sociais comentando a indignação sobre o crime:

Fernanda Paes Leme

Não tem como explicar o que tem não explicação. 30 homens x 1 mina?! Vamos gritar mulherada! Vamos dar as mãos!

Marília Gabriela

Uma menina de 16 anos, saindo do hospital com a mãe. Ela foi vítima de um estupro coletivo. E agora? Você lê a notícia e faz o que com o resto do seu feriado? E com sua revolta, a dor de estômago, de que maneira estanca suas lágrimas e tira o nó doído da garganta? Sobre a condição feminina, você pensa o quê? E a vergonha, a sensação de desamparo, essa consciência coletiva de que fomos todos estuprados, mulheres e homens, em plena sociedade no século 21, o que fazer com ela? O horror, o horror...

Nathalia Dill

Pelo amor de Deus! Isso tem que parar! A brutalidade contra a mulher não pode mais ser banalizada! 30 homens... Como assim? A revolta é muito grande! #Luto.

Camila Pitanga

Sufocada, consternada e muito triste com os casos de estupros coletivos ontem no Rio de Janeiro e no Piauí.

Sonia Abrão

A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. E essa imagem simboliza toda a indignação contra o machismo e sua violência. É também um grito de solidariedade à garota estuprada por 33 homens no Rio de Janeiro. Essa luta continua! Estamos juntas! Compartilhem!

Gaby Amarantos

Lembro de quando eu era criança, sempre haviam casos de estupro coletivo e lembro também que a MULHER/VÍTIMA ainda era tratada como culpada, lembro de expressões do tipo "quem manda andar de roupa curta" ou "mas ela provocou" e outras barbaridades. Lembro de crescer em meio ao medo de ser abusada e de ser policiada a ter um comportamento neutro a fim de evitar chamar atenção dos homens. Na periferia isso é algo tão comum infelizmente, podia ser um parente, vizinho ou um desconhecido. Mas eu escolhi lutar e meu papel é criar meu menino para tratar as mulheres e todas as pessoas com respeito e amor. Não temos que criar mulheres para ñ serem estupradas e sim criar homens para não serem estupradores. Estou chocada, quero justiça e uma sociedade igualitária!

segunda-feira, maio 23, 2016

Não desanime, tem gente que se importa com você!

Conversar ajuda

“ Se você está triste, sem esperança, com muita solidão, ou com dificuldades emocionais ligue para a gente. Nós ligamos para o que você está sentindo. Você não está só”. Este é o lema do CVV.
No último domingo estive no Brique da Redenção, em Porto Alegre, e ao longo da caminhada fui assistindo as várias apresentações e em um determinado quiosque havia um grupo de pessoas distribuindo “abraços de graça”. Eu conheço o movimento “Free Hugs” (abraços de graça) de Brasília, mas não conhecia o pessoal daqui. Como eu acho um movimento muito bacana, fui lá conversar com o pessoal.
A pessoa que me atendeu me disse que e eles são ligados ao CVV- Centro de Valorização da Vida, um grupo voluntário, que existe em várias cidades do Rio Grande do Sul, com objetivo de ajudar as pessoas para prevenção do suicídio, pelo número 188, conversando, escutando, orientando.
As Ligações são gratuitas e o anonimato garantido. Você não precisa dizer seu nome. Os atendentes são voluntários que passam por um treinamento, antes de começarem a atender na central. Os cursos são anunciados e a princípio, qualquer um pode ser voluntário.
Se você tiver interesse em conhecer e se voluntariar, dia 7 de junho, às 19 horas, haverá o Primeiro Encontro CVV Torres, Avenida do Riacho, 1423, na Câmara de Vereadores.
O CVV desenvolve outras atividades relacionadas a apoio emocional além do atendimento, com ações abertas à comunidade que estimulam o autoconhecimento e melhor convivência em grupo e consigo mesmo em todo o Brasil. A instituição também mantém o Hospital Francisca Julia que atende pessoas com transtornos mentais e dependência química em São José dos Campos-SP.
Todo mundo tem problemas, todo mundo passa, pelo menos uma vez na vida, por alguma crise, algum abalo, alguma fragilidade emocional e não há nada de errado nisto.  Começa a ser um erro quando os problemas se tornam maiores que você, mais fortes que você, fazem com que você se sinta infeliz a maior parte do tempo e você não busca ajuda para contornar esta situação.
Só reforçando, o número 188 é gratuito e atende 24 horas. (Clara Santos-Jornalista)


segunda-feira, maio 16, 2016

“Lugar de mulher não é na Política”

Lugar da mulher é onde ela quiser e quando ela quiser!

Após vários protestos por todo o Brasil, matérias em vários veículos nacionais e internacionais, que criticavam a escolha do governo de Temer, cuja composição ignorou duas maiorias da população do Brasil: mulheres e negros, no domingo (15), em entrevista para o programa Fantástico da Rede Globo, Michel Temer anunciou que vai colocar mulheres no segundo escalão. Ele é o primeiro Presidente do Brasil a não incluir nenhuma ministra mulher desde 1979.

Desde o ano 1891 até os dias hoje, olhar para a história política no Brasil no que diz respeito às mulheres, é perceber que ela sempre foi de exclusão desse espaço e/ou de apontar que mulheres não têm capacidade para estarem disputando esses espaços. Há aqueles que ainda dizem que “Lugar de mulher não é na política”. Frase que ouvi várias vezes ao longo da minha adolescência e que ainda ouço.
Lugar de mulher não é nas Forças Armadas, não é pilotando avião. Houve uma caso, cerca de dois anos, se minha memória não falha, que um homem, passageiro de um avião, se recusou a voar quando soube que quem pilotaria a aeronave era uma mulher. Fora isto, tem as piadinhas constantes no trânsito, sobre mulheres condutoras e por aí vai.
O assédio moral, no trabalho, com as piadinhas sem graça, as cantadas disfarçadas de brincadeira ou o desdém, também disfarçado, sutil, tácito, também são constantes nas vidas das mulheres que estudam, trabalham, dirigem, vão às compras, que saem para se divertir etc.
Uma rápida pesquisa sobre o sufrágio feminino no Brasil e você logo se depara com as histórias do primeiro debate sobre voto feminino que se tem registro. Aconteceu em 1891 ainda na República Velha, motivado pelos movimentos sufragistas Americano e Europeus de anos antes. Nessa época no Brasil, um deputado apresentou a proposta de lei de ampliação do direito ao voto das mulheres e a maioria dos argumentos contrários ao voto alternavam entre “elas são incapazes”, até para a ideia de que votar era um risco para as famílias Brasileiras. A parte cômica é a alegação que a proposta traria “anarquia” para a política nacional na época.
Lendo o debate nos anais da república é possível perceber que os discursos sobre mulher na política não mudaram, exemplo direto é uma fala do Dep. Lacerda Coutinho, que em meio a seu discurso contrário ao voto feminino em 1891, soltou “a mulher não tem capacidade (de votar), porque a mulher não tem no Estado o mesmo valor que o homem”. Argumentava nesse sentido que a função social das mulheres era apenas cuidar do ambiente doméstico e, portanto, a “rua” e a política pertenceria apenas aos homens. Aquela discussão retrata bem a situação da mulher na política na época e até os dias de hoje, de que as mulheres não são tratadas com igualdade no Estado,  principalmente no jogo político.
De 1891 até 1932, ano em que as mulheres “conquistaram” o direito ao voto, foram 41 anos de luta feminista. A curiosidade aqui nessa “conquista”, que atualmente se comemora o 83º aniversário, é que apenas foi concedido o direito e não o dever, o voto feminino era facultativo na lei. Tornou-se obrigatório para as funcionárias públicas em 1934. E obrigatório para todas as mulheres, apenas na Constituição de 1988, ou seja, faz apenas 28 anos que mulheres são iguais aos homens na legislação eleitoral. As primeiras campanhas de incentivo a participação feminina na política são recentes. E só para lembrar, ocupamos menos de 10% dos cargos políticos no país. O que demonstra que a Política ainda é muito masculina.
A capa da ISTOÉ do dia 1º de abril, deve nos fazer lembrar de Eugenia Moreyra, a primeira jornalista mulher de que se tem notícia no Brasil, uma sufragista declarada que dizia “a mulher será livre somente no dia em que passar a escolher seus representantes”. Certamente ao ler a reportagem escrita por um homem e por uma mulher, dá para acrescentar que não basta apenas o direito de votar e ser votada, precisamos mudar essa cultura de exclusão das mulheres do sistema eleitoral.
É bom lembrar que foram homens que concederam o direito ao voto para as mulheres, afinal eram somente eles quem executavam a política. Mas que também foram eles que durante séculos nos excluíram da vida publica. Para compreender a crise politica que vivemos hoje não basta apenas conhecer a história política, é preciso fazer recortes na história de gênero, raça, classe, sexualidade e religião. É necessário olhar para a política com recorte para compreendermos quem perde e quem ganha em uma crise.
O lugar da mulher não é na política, não nessa política masculina que está posta. O lugar da mulher é e sempre foi de construção de uma nova cultura política. E essa construção está acontecendo, e agora é uma hora mais que oportuna para aprendermos mais sobre política, sobre sistemas políticos, sobre crises, sobre partidos, sobre o que é ser mulher e tentar fazer política em uma cultura machista.
Na crise crie, como dizem alguns sociólogos. Crie rodas de conversas didáticas com mulheres. Você sabe alguma coisa, conhece alguma(s) que sabe(m), convide elas pra conversar. Crie hábitos de conversar sobre política. De provocar o debate com outras mulheres. Vamos criar nossa cultura política, aprendendo e ensinando umas com as outras.
O texto faz parte da coluna Mulheres e Política. Texto de Jussara Cardoso para as Blogueiras Feministas com adaptações minhas – Clara Santos-Jornalista)


sexta-feira, maio 06, 2016

Eles não nos representam: por que os políticos são tão diferentes de seus eleitores?

http://revistagalileu.globo.com/Multimidia/Infograficos/noticia/2015/07/por-que-os-politicos-sao-tao-diferentes-de-seus-eleitores2.html


  (Foto: marcus penna)
Você provavelmente nunca ouviu falar de Sólon, político grego que deu seu último suspiro há mais de 2 mil anos. Mas deveria. Sólon é considerado um dos pais da democracia porque decidiu que os postos mais importantes do governo deveriam ser ocupados apenas pelos cidadãos mais ricos. Não, você não leu errado, é isso mesmo: quanto mais alto fosse o cargo, mais dinheiro precisava ter o sujeito que quisesse ocupá-lo. Não parece o sistema mais democrático do mundo (e não é), mas antes disso os cargos políticos passavam praticamente de pai para filho, e nem mesmo os “milionários” da velha Atenas podiam participar do governo se não ostentassem um sobrenome importante.

Na teoria, o sistema de Sólon pelo menos dava a qualquer um a oportunidade de governar — bastava enriquecer fabricando toneladas de azeite de oliva ou vendendo milhares de miniaturas das esculturas de Zeus por $1,99. Mas, na prática, o governo continuava formado por meia dúzia de homens brancos endinheirados, exatamente como era antes.

De lá para cá, quase tudo mudou: Galileu (o original) foi condenado por afirmar que a Terra girava ao redor do Sol; Edison inventou a lâmpada elétrica; o direito ao voto tornou-se universal; e a seleção brasileira levou sete gols da Alemanha na última Copa. Mas pelo menos uma coisa continua quase igual: com algumas honrosas exceções, o governo ainda é basicamente formado por meia dúzia de homens brancos endinheirados.
 
  (Foto: rafael quick)
No Brasil, que hoje é a quarta democracia do mundo em número de eleitores, só 20% dos deputados federais são negros — entre a população, eles são mais de 50%. No caso das mulheres, a situação é ainda pior: elas são 51% dos brasileiros, mas apenas 9,9% do parlamento. E os empresários, sozinhos, ocupam mais de 40% das cadeiras. Não por acaso, os depu­tados eleitos no ano passado foram imediatamente colocados contra a parede para realizar mudanças no sistema eleitoral. Eduardo Cunha (PMDB-RJ), promovido a presidente da Câmara em fevereiro, logo tratou de encaminhar votações para propostas de reforma política que alterariam o formato das eleições. “A reforma política é acompanhada de um clamor, como se fosse uma solução mágica. A verdade é que posso construir paredes na minha casa ou destruí-las e ainda assim será uma reforma”, diz Cláudio Gonçalves Couto, professor do departamento de gestão pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

E, de fato, os principais projetos que Cunha tentou aprovar estavam muito mais para contrarreforma política: o distritão, derrubado pelos deputados, favoreceria os candidatos mais ricos e faria pouca diferença na prática. E a institucionalização de doações de empresas aos partidos, que acabou sendo aprovada, só contribui para que a “casa do povo” continue como um puxadinho para construtoras, bancos e outras megacorporações.

“Não acho que há muitos políticos representando empresários, ao contrário, acho até que tem muito mais gente representando os trabalhadores”, disse o presidente da Câmara a GALILEU. Nas eleições do ano passado, Cunha recebeu R$ 6.832.480 de doações de empresas como os bancos Safra e Pactual, Bradesco Vida e Previdência e até a Coca-Cola. Logo tratou de recuperar os investimentos milionários, com medidas como a regulamentação da terceirização, que interessa a todas as grandes empresas.

Mas, se todos os brasileiros podem votar, por que conti­nuam elegendo pessoas que representam muito mais os interesses das empresas que os da própria população? Frank Underwood, protagonista da série House of Cards e provável ídolo do presidente da Câmara, disse uma vez que “a democracia é superestimada”. Não é. Mas o voto talvez seja. 
 
Compare a sociedade brasileira com a Câmara (Foto: rafael quick)

PACATO CIDADÃO A democracia grega que Sólon ajudou a criar funcionava como uma grande reunião de condomínio: da mesma forma como todos os moradores podem ir ao salão de festas do prédio opinar sobre a reforma do elevador ou o som alto do vizinho, todos os cidadãos gregos podiam ir à assembleia popular debater os rumos da pólis. Esse sistema só era viável porque, como apenas cerca de 10% dos moradores da cidade se encaixavam na condição de “cidadãos”, ficava fácil reunir todo mundo em um mesmo espaço físico.

Depois disso, levou ~pouco tempo, coisa de 2 mil anos no máximo, para que a humanidade concluísse que valia a pena incluir trabalhadores e mulheres no processo democrático. Só que aí já não dava mais para reunir todo mundo em um lugar só. A alternativa encontrada foi a democracia representativa, em que cada cidadão tinha o direito de votar em um representante que supostamente seria seu elo de ligação com o governo. O voto seria, portanto, a forma de garantir que todo mundo tivesse seus interesses representados. Mas, como agora já deve estar claro, essa garantia isolada na verdade não garante coisa nenhuma.

“O voto é um meio muito pouco expressivo de participação política. Ele tem limitações que são claras”, diz Luis Felipe Miguel, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB). A história está de prova: quando operários europeus conseguiram o direito ao voto, no século 19, os aristocratas movidos a Moët & Chandon morriam de medo de que o resultado fosse uma redistribuição radical da riqueza. Com as mulheres, o processo foi parecido, com o receio de que a igualdade de voto fosse o primeiro passo rumo à igualdade de direitos. E não é preciso ser um Aristóteles para perceber que essas previsões passaram longe de se concretizar.

O problema é que, hoje, os eleitores têm menos liberdade do que parecem ter na hora de decidir quais números vão digitar na urna eletrônica. O voto de cabresto continua existindo — só ficou mais discreto. Ninguém vai até a cabine eleitoral para garantir que você votou, digamos, no coronel Calçada (personagem fictício, qualquer semelhança com nomes ou pessoas reais é mera coincidência) —, o que não significa que você não tenha sido influenciado de muitas outras formas. “A democracia eleitoral se baseia na presunção de que cada um tem um entendimento esclarecido de suas próprias preferências. Mas essa presunção, que até faz sentido na teoria, é pouco defensável na prática”, explica o professor da UnB. Basicamente, os ricos e poderosos têm mais condições de influenciar outras pessoas e fazer que seus pontos de vista prevaleçam. “A classe política profissional é, da perspectiva social, uma elite que tem recursos, e por isso ela é majoritariamente formada por brancos, homens, empresários. Todos os grupos privilegiados são super-representados pelo Congresso”, diz Cláudio Gonçalves Couto.

A festa da democracia funciona assim: todo mundo está convidado, mas o espaço vip com bebida que pisca fica reservado para os poucos reis do camarote que podem pagar por ele.
  (Foto: rafael quick)
CROWDFUNDING ELEITORAL Já pensou que mágico se você tomasse 50 multas de trânsito e precisasse pagar apenas duas? Pois foi quase isso que aconteceu com os sortudos planos de saúde do Brasil. Em abril de 2014, o Congresso votou a Medida Provisória 627, criada para regulamentar os impostos sobre os lucros obtidos por multinacionais brasileiras no exterior. A medida provisória funciona mais ou menos como um projeto de lei criado pela própria presidente, e só vira lei de fato se for aprovada pelo Congresso. Mas tem uma pegadinha: deputados e senadores podem alterar o projeto da presidente antes de aprová-lo. Essas alterações são as famosas “emendas”, e a MP 627 recebeu nada menos que 513 (qui-nhen-tas-e-tre-ze) delas. Uma dessas emendas operou praticamente um milagre: transformou um inocente projeto sobre impostos em perdão de uma dívida de R$ 2 bilhões dos planos de saúde (porque, sempre que tomassem 50 multas pelo mesmo motivo, as empresas precisariam pagar apenas duas). O relator da MP era justamente Eduardo Cunha, que na época ainda não era presidente da Câmara. E um dos principais patrocinadores da campanha milionária de Cunha nas últimas eleições foi justamente o… Bradesco Saúde, um dos maiores planos do Brasil.

A campanha de todos os partidos nas eleições de 2014 custou mais de R$ 5 bilhões, o equivalente a cinco estádios do Maracanã, 170.946 carros populares ou um passaporte de férias eternas para você, sua família e todos os seus amigos do Facebook. Para conseguir essa grana, os candidatos fizeram uma espécie de financiamento coletivo. Eles bateram de porta em porta, disseram de quanto dinheiro precisavam e, claro, prometeram recompensas para quem concordasse em ajudar. E muita gente concordou: construtoras como Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão e Odebrecht, empresas de bebidas como Ambev e Cervejaria Petrópolis e bancos como BTG Pactual e Bradesco despejaram mais de R$ 3 bilhões nas contas dos partidos. A JBS, dona da Friboi, lidera as doações, com mais de R$ 365 milhões investidos. O resto do dinheiro veio de contribuições de pessoas físicas e do Fundo Partidário, recurso público repassado mensalmente aos 32 partidos políticos registrados no país. Só no ano passado, R$ 365 milhões foram distribuídos às legendas, que recebem sua parte de maneira proporcional ao tamanho da bancada na Câmara dos Deputados.

Agora certamente já está claro que as doações feitas por empresas são, na verdade, investimentos. As construtoras esperam se dar bem com novas obras, as cervejarias querem diminuir os impostos sobre a bebida, e os bancos querem, veja só, dinheiro (que pode vir na variação da taxa de juros, por exemplo). É por isso que muita gente defende o fim do financiamento privado: quando candidatos dependem mais das empresas que das pessoas para ser eleitos, não é difícil saber quais interesses priorizarão quando estiverem instalados nas confortáveis cadeiras do Congresso.

Para piorar, as empresas não colocam dinheiro em qualquer candidato. “Algumas fazem estudos prévios para investir seu dinheiro em candidatos competitivos”, afirma Wagner Mancuso, professor de gestão de políticas públicas da Universidade de São Paulo (USP). “Candidatos homens têm maior prevalência que mulheres, e os empresários também recebem mais recursos.” Como em uma corrida de cavalos, a aposta é feita em quem tem mais chance de vencer e, assim, garantir o retorno do investimento. Às vezes, não necessariamente por métodos legais: as empreiteiras OAS e Andrade Gutierrez são investigadas na Operação Lava-Jato justamente por conta das doações que fizeram aos maiores partidos brasileiros. Com propriedade de causa, Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras envolvido no esquema de corrupção, deu sua opinião sobre o financiamento privado em vídeo gravado pela Procuradoria Geral da República: “Nenhuma empresa vai doar 2, 3, 4, 5 milhões de reais porque gosta de fulano de tal. Todas as doa­ções, sejam oficiais ou não, são empréstimos. A empresa está emprestando para o cara e depois vai cobrar dele”.

Em campanhas cada vez mais profissionalizadas, que investem pesado em recursos audiovisuais e obrigam o candidato a se deslocar para diferentes localidades, o dinheiro torna-se um diferencial na hora da eleição. Uma pesquisa realizada pelo Estadão Dados estimou que candidatos a deputado federal com verba de campanha superior a R$ 5 milhões têm nada me­nos que 100% de chance de se eleger. Já quem investe menos de R$ 500 mil tem apenas 3% de possibilidade de chegar à Câmara.

Nas últimas eleições, o deputado federal Sergio Zveiter (PSD-RJ) foi  o dono do voto “mais caro”: investiu R$ 5.720.551 para receber 57.587 votos, uma média de R$ 99,34 por voto. O pastor Marco Feliciano (PSC-SP) não precisou de muito para ser eleito, gastando apenas R$ 145.560 para ganhar 388.087 votos. Seu desafeto, Jean Wyllys (PSOL-RJ), foi o segundo deputado federal mais efetivo, com gastos de R$ 67.892 e 144.770 votos. “O financiamento empresarial gera a maior distorção de representatividade, já que as campanhas poderiam gastar muito me­nos e isso não traria nenhum prejuízo para a circulação de ideias”, explica o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), um dos que votaram contra o financiamento privado no final de maio.
 
  (Foto: rafael quick e marcus penna)
33 MIL + BENEFÍCIOS Os 32 políticos filiados ao Partido Progressista (PP) que são investigados na Operação Lava-Jato não assustam Paulo Maluf, líder histórico da legenda. O deputado federal, que é ex-prefeito paulistano, ex-governador paulista e ex-candidato à presidência da República e atualmente figura na lista de procurados da Interpol por “apropriação indébita de fundos”, disse em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo que se orgulhava de pertencer há 48 anos ao “melhor partido do mundo”. Sucessor da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido oficial da ditadura militar, o PP ainda abriga políticos ligados ao regime, caso do deputado federal fluminense Simão Sessim e do próprio Maluf, além de congressistas como o militar da reserva Jair Bolsonaro.

É de imaginar, portanto, que uma reunião entre membros do partido com lideranças do Partido dos Trabalhadores não seria lá muito amigável. Mas que nada: em 2012, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Haddad, na época pré-candidato à prefeitura de São Paulo, visitaram a mansão de Maluf e selaram o acordo entre os dois partidos com um caloroso aperto de mãos. Em 2014, a dobradinha se repetiu e o PP apoiou a candidatura de Dilma Rousseff, que na juventude pegou em armas e foi torturada para combater a ditadura sustentada pela Arena. Um caso de esquecimento seletivo, esquizofrenia coletiva ou um bom jeitinho para se adaptar ao nosso sistema eleitoral?

As três respostas estão corretas, mas a maneira como as coligações se formam para disputar eleições ajuda a explicar por que partidos sacrificam seus programas de governo — aqueles que usaram para ganhar o seu voto — e se aliam a outras legendas com programas completamente diferentes. É que, se eles não fizerem isso, fica impossível conseguir o mínimo de apoio necessário para aprovar qualquer projeto. Quem se dá bem com essa bagunça são os partidos pequenos, que podem negociar seu apoio tanto com a situação quanto com a oposição. Aliás, a pulverização partidária na Câmara — 28 legendas elegeram pelo menos um deputado — não é tão difícil de ser explicada quando observamos as mordomias reservadas aos parlamentares: cada deputado federal recebe um salário de R$ 33.763 (maior que o da presidente), auxílio moradia de R$ 4.272,99 e uma verba de R$ 92.005 para contratar até 25 funcionários de sua confiança.

Para complicar um pouco mais, o sistema brasileiro privilegia o voto proporcional. Isso significa que seu voto conta ao mesmo tempo para o candidato e para a legenda. Se você votar no coronel Calçada e ele não for eleito, seu voto não é jogado fora: ele pode ajudar a eleger outros candidatos do mesmo partido ou da mesma coligação (quando vários partidos se juntam para disputar a eleição). Mas o sistema proporcional também tem falhas. Uma delas é a possibilidade de que os partidos pequenos invistam nos chamados “puxadores de votos”. São figuras como Tiririca (PR-SP), que recebem uma votação monstruosa e acabam elegendo outros candidatos da mesma coligação. Em 2010, quando concorreu pela primeira vez, o humorista recebeu mais de 1 milhão de votos. Teoricamente, seus eleitores estavam protestando contra “tudo o que está aí”. Mas o partido de Tiririca estava coligado com o PT, e os votos dados ao humorista na verdade ajudaram a eleger o petista José Genoíno, posteriormente condenado no processo do Mensalão.

Por mais bem-intencionado que um chefe de Estado seja, ou ele dialoga com os 28 partidos do Congresso ou se inspira em Game of Thrones para fazer um Casamento Vermelho, com direito a dragões cuspindo fogo e tudo. “Você não muda uma estrutura de poder com pessoas isoladamente: os partidos são imperfeitos, como é a sociedade, mas é necessário valorizar o componente programático do nosso voto”, diz o deputado Henrique Fontana.

DIA DA CAPIVARA Em fevereiro deste ano, o deputado catarinense Ronaldo Benedet (PMDB-SC) pediu o desarquivamento de um projeto de lei (PL) apresentado por ele e outros 126 colegas em setembro de 2013. Tratava-se de uma proposta de reforma política que, entre outras coisas, previa o fim do financiamento privado de campanha e uma espécie de recall para legisladores — os deputados poderiam ser afastados se os eleitores concluíssem que eles não estavam agindo de acordo com o que prometeram. O pedido de desarquivamento foi negado, e a explicação foi constrangedora: não havia como desarquivar um projeto que nunca tinha sido arquivado.

 
  (Foto: rafael quick)
“Costumamos pedir o desarquivamento de nossos projetos quando iniciamos um novo mandato”, diz Benedet. “Talvez um assessor tenha incluído esse PL junto com os outros.” É comum que parlamentares não saibam exatamente em que pé estão seus projetos. Além de Benedet, outros sete deputados pediram o desarquivamento do PL 6.316 em fevereiro — e todos obviamente tiveram seus pedidos indeferidos pelo mesmo motivo. Mas foi Benedet o escolhido para ilustrar esta reportagem porque, de todos, ele foi o único que votou a favor do financiamento privado de campanha no final de maio, apenas três meses depois de tentar “ressuscitar” um projeto que defendia justamente o contrário. “Eu sou a favor do financiamento público, mas hoje ficou impossível aprová-lo na Câmara, porque somos massacrados pela mídia e a população não quer usar dinheiro público para pagar campanhas”, justifica o deputado. “Votei contra as doações de empresas a candidatos, mas, depois de uma conversa com os líderes do PMDB, resolvi votar a favor das doações para partidos.” Seria caso de recall?

“É curioso que as pessoas tenham aprendido rapidamente a reclamar quando um eletrodoméstico estraga ou a entrega do jornal atrasa, só que o sistema político não desperta o mesmo interesse”, diz Jairo Nicolau, pesquisador da UFRJ. Mas a verdade é que, se os 105.303 catarinenses que votaram em Benedet no ano passado — ou 105.302, descontando o próprio deputado — quisessem voltar atrás depois que ele “mudou de opinião” subitamente, tudo o que poderiam fazer seria xingar muito no Twitter. A democracia representativa não prevê qualquer contato direto entre eleitores e eleitos. “Existe um elemento elitista na defesa da manutenção da distância entre representantes e representados”, diz Luis Felipe Miguel, da UnB. “Precisamos ter mecanismos de interlocução capazes de permitir que os representantes respondam aos interesses que vão se formando na base inclusive ao longo dos mandatos.”

Curiosamente, o PL 6.316, que Benedet e os colegas tentaram desarquivar, é fruto de um dos raros “mecanismos de interlocução” que existem hoje entre a sociedade e o Congresso. Trata-se dos chamados “projetos de lei de iniciativa popular”. Digamos que você queira criar o Dia Nacional da Capivara. Se conseguir a assinatura de 1% dos eleitores brasileiros, algo como 1,5 milhão de pessoas, você pode “obrigar” a Câmara a debater sua proposta. Parece bom. Mas aí sempre pode acontecer o mesmo que aconteceu com o PL 6.316: nada.

O projeto, organizado por entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi levado ao plenário em 2013 pela então deputada Luiza Erundina. Desde então, ele está mofando em algum canto da Câmara — aparentemente com a condescendência do presidente Eduardo Cunha. “Vamos exigir que o PL 6.316 seja apreciado, apesar de o presidente [Cunha] o desvalorizar a ponto de ter dito, em reunião de líderes, que ‘assinatura de apoio qualquer um pega na esquina’”, afirma o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). Um dos idealizadores do projeto, o jurista Ives Gandra Martins, da OAB, acha que ele só tem chances reais de ser apreciado se houver pressão popular: “Só com manifestações de rua teremos uma reforma política adequada. Os políticos não aprovariam por conta própria mudanças em leis que os beneficiam”.

LASCADOS Desde os tempos da Grécia Antiga, a democracia por definição pressupõe a igualdade política de todos os cidadãos. Mas o sistema representativo divide automaticamente a população em um pequeno grupo de tomadores de decisões e um grande conjunto de governados cuja influência sobre essas decisões é quase nula. “A igualdade de voto não consegue se traduzir em igualdade de representação, e muito menos de influência política”, diz Luis Felipe Miguel.

Hoje, cientistas políticos e ativistas do mundo todo buscam formas de tornar a democracia representativa um pouco mais participativa. “Precisamos criar instituições mais abertas às demandas das ruas. O parlamento está longe de esgotar toda a representação da sociedade, e os partidos também”, diz Chico Alencar.

Na Espanha, o partido Podemos, criado no início do ano passado por professores universitários, reuniu mais de 100 mil filiados em 20 dias e conseguiu eleger cinco representantes para o Parlamento Europeu poucos meses depois da sua fundação. A estrutura do Podemos reproduz o sistema grego da antiguidade: todos os filiados se reúnem em assembleias pelo país e ajudam a decidir tanto os candidatos quanto as posições do partido em relação a determinados assuntos. Além das assembleias, voluntários — filiados ou não — também se reúnem em “círculos”, grupos de discussão que debatem questões que podem ser territoriais (relativas a um bairro ou cidade) ou setoriais (condições de trabalho de uma categoria específica, por exemplo) e repassam suas conclusões à cúpula do partido.

Já o Partido de la Red, da Argentina, tem uma pro­posta um tantinho mais radical: a ideia é que os eleitores escolham não um representante, mas um “delegado” que estará no Congresso apenas para votar de acordo com o que foi decidido pela maioria em discussões feitas pela internet. Essas discussões acontecem em uma plataforma de código aberto chamada DemocracyOS, criada pela desenvolvedora argentina Pia Mancini. Além do Partido de la Red, a Legislatura de Buenos Aires, o equivalente da nossa Câmara de Vereadores, também aderiu à plataforma para pedir a opinião da população sobre assuntos como o horário de funcionamento do metrô e a criação do Dia da Trabalhadora Sexual.

Se ainda não foi encontrada uma solução definitiva para a crise da democracia representativa, o Podemos e o Partido de la Red surgem como alternativas para tornar a relação de poder entre os eleitores e seus representantes um pouco menos desigual. “Sempre será necessário ampliar a capacidade de supervisão dos representados sobre os representantes, não só porque isso contribui para a promoção da igualdade política, mas sobretudo por uma questão de realismo”, explica Luis Felipe Miguel. “Só há uma lei universalmente válida que a ciência política foi capaz de estabelecer em toda a sua história: se dependermos da boa vontade de quem tem poder sobre nós, estamos lascados.”
 
  (Foto: rafael quick)

ELES NÃO NOS REPRESENTAM Deputados que apresentaram propostas completamente contrárias ao interesse da população:

Silvio Costa
Partido: PSC
Estado: Pernambuco
Quantos votos recebeu: 103.461*
Por que não nos representa: Apresentou projeto que, se aprovado, permitirá que gestores públicos condenados pelo Tribunal de Contas da União disputem eleições.
Rejeição da proposta: 98% (de acordo com o Vote na Web)
 

Daniel Almeida
Partido: PCdoB
Estado: Bahia
Quantos votos recebeu: 135.382*
Por que não nos representa: Apresentou proposta que modificará as leis eleitorais, permitindo que políticos com contas de campanhas rejeitadas se candidatem novamente, além de desobrigar a apresentação de recibo de doações de campanha
Rejeição da proposta: 98% (de acordo com o Vote na Web)

Luiz Carlos Heinze
Partido: PP
Estado: Rio Grande do Sul
Quantos votos recebeu: 162.462*
Por que não nos representa: Foi autor de projeto que deu a uma rodovia gaúcha o nome de um general que foi vice-presidente durante a Ditadura Militar
Rejeição da proposta: 86% (de acordo com o Vote na Web)

Marco Feliciano
Partido: PSC
Estado: São Paulo
Quantos votos recebeu: 398.087*
Por que não nos representa: Propõe o título de capital nacional das missões cristãs para Camboriú (SC), para dar mais visibilidade ao município.
Rejeição da proposta: 93(de acordo com o Vote na Web)

Bonifácio de Andrada
Partido: PSDB
Estado: Minas Gerais
Quantos votos recebeu: 83.628*
Por que não nos representa: Apresentou projeto que proibirá a divulgação, durante o período de campanha eleitoral, de qualquer investigação, inquérito ou processo criminal praticados por candidatos à eleição
Rejeição da proposta: 99% (de acordo com o Vote na Web)

COMO HACKEAR O SISTEMA ELEITORAL Um aplicativo e dois sites para que você não dê mole nas próximas eleições
Apresenta de forma simplificada os projetos em tramitação e incentiva a participação dos usuários, que votam sim ou não e discutem as propostas. Os resultados são encaminhados ao Congresso.
B. BOLETIM DA CÂMARA
Por incrível que pareça, o próprio site da Câmara oferece aos eleitores a opção de receber um boletim por e-mail que mostra todas as propostas, discursos e votos dos seus representantes em Brasília.
C. NEWSLETTER INCANCELÁVEL
O eleitor recebe mensalmente uma newsletter com as notícias mais relevantes sobre o seu candidato — e não tem a opção de cancelá-la até que o mandato acabe.

Não quer? Tem quem queira!

Ao longo desta semana foi amplamente divulgado que a brasileira, neurocientista, Suzana Herculano-Houzel embarca nos próximos dias para Nashville, no Tennessee, onde vai assumir o posto de professora dos departamentos de Psicologia e Ciências Biológicas da Universidade Vanderbilt.
Foi depois que ela anunciou que estava de partida para receber a merecida, porém tardia, atenção e reconhecimento. O motivo da partida? Descaso do governo brasileiro, falta de condições de trabalho.
Quando a situação financeira de seu laboratório ficou insustentável, em 2015, Herculano-Houzel empenhou seu prestígio nas redes sociais e lançou uma campanha de financiamento coletivo para continuar tocando as pesquisas de seu grupo. Em dois meses de campanha, arrecadou 113 mil reais, possivelmente a maior soma já levantada por cientistas brasileiros num crowdfunding. Os recursos permitiram bancar o laboratório por cinco meses.
As contrariedades só se agravaram desde então. No artigo em que justifica sua partida, Herculano-Houzel critica a derrocada do sistema de financiamento da ciência pelos governos federal e do estado do Rio de Janeiro e a carreira engessada e sem estímulos dos pesquisadores contratados como funcionários públicos em universidades federais. “Não importa o quanto um cientista produza, o quanto se esforce, quanto financiamento ou reconhecimento público traga para a universidade – o salário será sempre o mesmo dos colegas que fazem o mínimo necessário para não chamar a atenção”, escreve.

É uma pena. Mais um "caso de descaso" com nossos pesquisadores. E os EUA, que são bem conhecidos não só por reconhecer mas abrigar talentos do mundo todo, simplesmente oferecem as condições que todo pesquisador, não importa a área, quer: um local digno para morar e trabalhar. Só isto!  Mas este "só" pode parecer pouco para uns mas para quem fica horas a fio, muitas vezes apartado do "mundo mundano", estudando, lendo, pesquisando, fazendo experimentos, este "só" é muito. é tudo que eles precisam. A neurocientista Suzana Herculano, brasileira, é mais conhecida lá fora do que aqui, sinal claro de que ela, assim como outros tantos brasileiros pesquisadores, cientistas, inventores, não tem o merecido reconhecimento pelos seu trabalho. "Não quer? Tem quem queira"... (Clara Santos)

Deixo o link da matéria da Revista Piauí, matéria de Bernardo Esteves, com detalhes sobre a neurocientista: http://revistapiaui.estadao.com.br/questoes-da-ciencia/neurocientista-suzana-herculano-houzel-deixa-o-pais/

terça-feira, maio 03, 2016

Leicester, o time Inglês que tem uma raposa como símbolo era a zebra da vez!

O time quase foi rebaixado em 2015 mas deu a volta por cima, sem recursos, sem jogadores conhecidos, cujos passes valem bilhões, sem muitos recursos e quebrou algumas casas de apostas da Inglaterra que nunca imaginariam que o time fosse campeão.
Na reta final da última temporada da Premier League, o Leicester estava na lanterna da competição. Os Foxes (raposas em Português) emendaram sete vitórias em nove jogos e conseguiram evitar o rebaixamento de forma inacreditável.
Outra curiosidade é que o time tem um jogador, Jamie Vardy, que estava na condicional e jogava usando tornozeleira eletrônica. Ele até tinha que sair mais cedo das partidas para poder voltar para casa a tempo para não desobedecer as regras da condicional. Com 20 anos, Jamie Vardy foi condenado por agressão e teve que usar uma tornozeleira. O crime? Defender o amigo surdo que foi ridicularizado por outras pessoas.
O jogador se defende: “Eu tinha saído com um amigo que estava usando um aparelho auditivo e dois outros homens acharam que seria engraçado sacanear ele. Não me orgulho do que fiz, mas eu defendi ele, o que eu sempre faria por um amigo meu, e isso acabou me colocando em problemas”.
Um dos maiores ídolos do clube é o goleiro Gordon Banks. Muitos brasileiros devem lembrar porque ele ficou mais conhecido por ter feito uma das defesas mais sensacionais da história, no confronto entre Brasil e Inglaterra, na Copa do Mundo de 1970. Campeão mundial com o English Team em 1966, atuou em 356 partidas pelos Foxes (raposas).
“O importante não é o tamanho e sim saber usar”, segundo dizem por aí, dito popular que se enquadra na realidade do time que leva o nome da cidade Leicester. A cidade tem apenas 337 mil habitantes, número próximo às cidades de Pelotas (RS), Franca (SP), Blumenau (SC) e Uberaba (MG), por exemplo.
A trajetória: o Leicester era o lanterna, sete pontos atrás da salvação, a nove jogos do fim do campeonato do ano passado, Terminou seis pontos acima dela depois de vencer sete jogos, empatar um e cair contra um Chelsea embalado rumo ao título. Era a temporada do retorno à Premier League depois de dez anos de distância e uma passagem rápida, em 2008, pela terceira divisão do futebol inglês e uma derrota três anos atrás em um playoff contra o Watford, quando poderia ter subido, com um pênalti a favor perdido no último minuto da prorrogação e um imediato contra-ataque do rival que o eliminou. Schmeichel, Morgan, Drinkwater e Schlupp jogaram aquela partida. Jamie Vardy, que não jogou nenhum minuto, e Harry Kane, o atual artilheiro da Premier com o Tottenham, estavam no banco de reservas naquela fatídica tarde. Hoje compõem a linha de ataque da seleção inglesa.
Faltou dinheiro mas sobrou talento. O time atual do Leicester custou menos de 30 milhões de euros (cerca de 120 milhões de reais) em contratações, metade do que o Manchester City pagou neste verão para ter Sterling, um reserva, por exemplo.
Moral da história? Os Foxes vivem um momento único e uma história emocionante e inspiradora, que vai virar um filme, inclusive. A liga mais difícil e endinheirada do mundo foi vencida por um pequeno, pela zebra da temporada, justamente quando questionamos a essência do futebol por conta dos inúmeros escândalos de corrupção culminando com os outros casos de corrupção no Brasil. Estamos mais descrentes do que nunca, e é justamente neste momento que o Leicester aparece para nos dar esperança e mostrar que o jogo que tanto amamos ainda vive e que se reinventar, de forma honesta e ética são as palavras de ordem! (Clara Santos- Jornalista)

O prefeito Graciliano Ramos e seus relatórios de gestão

O prefeito Graciliano Ramos e seus relatórios de gestão: Um comerciante que é eleito com velhas práticas, adota políticas administrativas inovadoras, chama a atenção pela qualidade literária de suas prestações de contas e acaba desistindo do cargo. Se tornaria, tempos depois, um dos maiores escritores brasileiros

Da hiperinflação à estagflação: a trajetória da economia desde 1991

Da hiperinflação à estagflação: a trajetória da economia desde 1991: Dados de inflação e desemprego mostram o vaivém da economia brasileira nos últimos 25 anos