Lugar da mulher é onde ela quiser e quando ela quiser!
Após vários protestos por todo o Brasil, matérias em vários
veículos nacionais e internacionais, que criticavam a escolha do governo de
Temer, cuja composição ignorou duas maiorias da população do Brasil: mulheres e
negros, no domingo (15), em entrevista para o programa Fantástico da Rede
Globo, Michel Temer anunciou que vai colocar mulheres no segundo escalão. Ele é
o primeiro Presidente do Brasil a não incluir nenhuma ministra mulher desde
1979.
Desde o ano 1891 até os dias hoje, olhar para a história política
no Brasil no que diz respeito às mulheres, é perceber que ela sempre foi de
exclusão desse espaço e/ou de apontar que mulheres não têm capacidade para
estarem disputando esses espaços. Há aqueles que ainda dizem que “Lugar de
mulher não é na política”. Frase que ouvi várias vezes ao longo da minha
adolescência e que ainda ouço.
Lugar de mulher não é nas Forças Armadas, não é pilotando avião. Houve uma caso, cerca de dois anos, se minha memória não falha, que um homem, passageiro de um avião, se recusou a voar quando soube que quem pilotaria a aeronave era uma mulher. Fora isto, tem as piadinhas constantes no trânsito, sobre mulheres condutoras e por aí vai.
O assédio moral, no trabalho, com as piadinhas sem graça, as cantadas disfarçadas de brincadeira ou o desdém, também disfarçado, sutil, tácito, também são constantes nas vidas das mulheres que estudam, trabalham, dirigem, vão às compras, que saem para se divertir etc.
Uma rápida pesquisa sobre o sufrágio feminino no Brasil e
você logo se depara com as histórias do primeiro debate sobre voto feminino que
se tem registro. Aconteceu em 1891 ainda na República Velha, motivado pelos
movimentos sufragistas Americano e Europeus de anos antes. Nessa época no
Brasil, um deputado apresentou a proposta de lei de ampliação do direito ao
voto das mulheres e a maioria dos argumentos contrários ao voto alternavam
entre “elas são incapazes”, até para a ideia de que votar era um risco para as
famílias Brasileiras. A parte cômica é a alegação que a proposta traria
“anarquia” para a política nacional na época.
Lendo o debate nos anais da república é possível perceber
que os discursos sobre mulher na política não mudaram, exemplo direto é uma
fala do Dep. Lacerda Coutinho, que em meio a seu discurso contrário ao voto
feminino em 1891, soltou “a mulher não tem capacidade (de votar), porque a
mulher não tem no Estado o mesmo valor que o homem”. Argumentava nesse sentido
que a função social das mulheres era apenas cuidar do ambiente doméstico e,
portanto, a “rua” e a política pertenceria apenas aos homens. Aquela discussão
retrata bem a situação da mulher na política na época e até os dias de hoje, de
que as mulheres não são tratadas com igualdade no Estado, principalmente no jogo político.
De 1891 até 1932, ano em que as mulheres “conquistaram” o
direito ao voto, foram 41 anos de luta feminista. A curiosidade aqui nessa
“conquista”, que atualmente se comemora o 83º aniversário, é que apenas foi
concedido o direito e não o dever, o voto feminino era facultativo na lei.
Tornou-se obrigatório para as funcionárias públicas em 1934. E obrigatório para
todas as mulheres, apenas na Constituição de 1988, ou seja, faz apenas 28 anos
que mulheres são iguais aos homens na legislação eleitoral. As primeiras
campanhas de incentivo a participação feminina na política são recentes. E só
para lembrar, ocupamos menos de 10% dos cargos políticos no país. O que
demonstra que a Política ainda é muito masculina.
A capa da ISTOÉ do dia 1º de abril, deve nos fazer lembrar
de Eugenia Moreyra, a primeira jornalista mulher de que se tem notícia no
Brasil, uma sufragista declarada que dizia “a mulher será livre somente no dia
em que passar a escolher seus representantes”. Certamente ao ler a reportagem
escrita por um homem e por uma mulher, dá para acrescentar que não basta apenas
o direito de votar e ser votada, precisamos mudar essa cultura de exclusão das
mulheres do sistema eleitoral.
É bom lembrar que foram homens que concederam o direito ao
voto para as mulheres, afinal eram somente eles quem executavam a política. Mas
que também foram eles que durante séculos nos excluíram da vida publica. Para
compreender a crise politica que vivemos hoje não basta apenas conhecer a
história política, é preciso fazer recortes na história de gênero, raça,
classe, sexualidade e religião. É necessário olhar para a política com recorte
para compreendermos quem perde e quem ganha em uma crise.
O lugar da mulher não é na política, não nessa política
masculina que está posta. O lugar da mulher é e sempre foi de construção de uma
nova cultura política. E essa construção está acontecendo, e agora é uma hora
mais que oportuna para aprendermos mais sobre política, sobre sistemas
políticos, sobre crises, sobre partidos, sobre o que é ser mulher e tentar
fazer política em uma cultura machista.
Na crise crie, como dizem alguns sociólogos. Crie rodas de
conversas didáticas com mulheres. Você sabe alguma coisa, conhece alguma(s) que
sabe(m), convide elas pra conversar. Crie hábitos de conversar sobre política.
De provocar o debate com outras mulheres. Vamos criar nossa cultura política,
aprendendo e ensinando umas com as outras.
O texto faz parte da coluna Mulheres e Política. Texto de
Jussara Cardoso para as Blogueiras Feministas com adaptações minhas – Clara Santos-Jornalista)
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