Happiness.Documentary

Olá! Este é o blog oficial de divulgação do documentário que estou fazendo: #HappinessDocumentary e outras divulgações de meu interesse.
Eu já tinha este blog desde 2008. Apenas mudei o nome para o nome do documentário e mantive as publicações anteriores para que as pessoas possam me conhecer um pouco mais.

segunda-feira, maio 16, 2016

“Lugar de mulher não é na Política”

Lugar da mulher é onde ela quiser e quando ela quiser!

Após vários protestos por todo o Brasil, matérias em vários veículos nacionais e internacionais, que criticavam a escolha do governo de Temer, cuja composição ignorou duas maiorias da população do Brasil: mulheres e negros, no domingo (15), em entrevista para o programa Fantástico da Rede Globo, Michel Temer anunciou que vai colocar mulheres no segundo escalão. Ele é o primeiro Presidente do Brasil a não incluir nenhuma ministra mulher desde 1979.

Desde o ano 1891 até os dias hoje, olhar para a história política no Brasil no que diz respeito às mulheres, é perceber que ela sempre foi de exclusão desse espaço e/ou de apontar que mulheres não têm capacidade para estarem disputando esses espaços. Há aqueles que ainda dizem que “Lugar de mulher não é na política”. Frase que ouvi várias vezes ao longo da minha adolescência e que ainda ouço.
Lugar de mulher não é nas Forças Armadas, não é pilotando avião. Houve uma caso, cerca de dois anos, se minha memória não falha, que um homem, passageiro de um avião, se recusou a voar quando soube que quem pilotaria a aeronave era uma mulher. Fora isto, tem as piadinhas constantes no trânsito, sobre mulheres condutoras e por aí vai.
O assédio moral, no trabalho, com as piadinhas sem graça, as cantadas disfarçadas de brincadeira ou o desdém, também disfarçado, sutil, tácito, também são constantes nas vidas das mulheres que estudam, trabalham, dirigem, vão às compras, que saem para se divertir etc.
Uma rápida pesquisa sobre o sufrágio feminino no Brasil e você logo se depara com as histórias do primeiro debate sobre voto feminino que se tem registro. Aconteceu em 1891 ainda na República Velha, motivado pelos movimentos sufragistas Americano e Europeus de anos antes. Nessa época no Brasil, um deputado apresentou a proposta de lei de ampliação do direito ao voto das mulheres e a maioria dos argumentos contrários ao voto alternavam entre “elas são incapazes”, até para a ideia de que votar era um risco para as famílias Brasileiras. A parte cômica é a alegação que a proposta traria “anarquia” para a política nacional na época.
Lendo o debate nos anais da república é possível perceber que os discursos sobre mulher na política não mudaram, exemplo direto é uma fala do Dep. Lacerda Coutinho, que em meio a seu discurso contrário ao voto feminino em 1891, soltou “a mulher não tem capacidade (de votar), porque a mulher não tem no Estado o mesmo valor que o homem”. Argumentava nesse sentido que a função social das mulheres era apenas cuidar do ambiente doméstico e, portanto, a “rua” e a política pertenceria apenas aos homens. Aquela discussão retrata bem a situação da mulher na política na época e até os dias de hoje, de que as mulheres não são tratadas com igualdade no Estado,  principalmente no jogo político.
De 1891 até 1932, ano em que as mulheres “conquistaram” o direito ao voto, foram 41 anos de luta feminista. A curiosidade aqui nessa “conquista”, que atualmente se comemora o 83º aniversário, é que apenas foi concedido o direito e não o dever, o voto feminino era facultativo na lei. Tornou-se obrigatório para as funcionárias públicas em 1934. E obrigatório para todas as mulheres, apenas na Constituição de 1988, ou seja, faz apenas 28 anos que mulheres são iguais aos homens na legislação eleitoral. As primeiras campanhas de incentivo a participação feminina na política são recentes. E só para lembrar, ocupamos menos de 10% dos cargos políticos no país. O que demonstra que a Política ainda é muito masculina.
A capa da ISTOÉ do dia 1º de abril, deve nos fazer lembrar de Eugenia Moreyra, a primeira jornalista mulher de que se tem notícia no Brasil, uma sufragista declarada que dizia “a mulher será livre somente no dia em que passar a escolher seus representantes”. Certamente ao ler a reportagem escrita por um homem e por uma mulher, dá para acrescentar que não basta apenas o direito de votar e ser votada, precisamos mudar essa cultura de exclusão das mulheres do sistema eleitoral.
É bom lembrar que foram homens que concederam o direito ao voto para as mulheres, afinal eram somente eles quem executavam a política. Mas que também foram eles que durante séculos nos excluíram da vida publica. Para compreender a crise politica que vivemos hoje não basta apenas conhecer a história política, é preciso fazer recortes na história de gênero, raça, classe, sexualidade e religião. É necessário olhar para a política com recorte para compreendermos quem perde e quem ganha em uma crise.
O lugar da mulher não é na política, não nessa política masculina que está posta. O lugar da mulher é e sempre foi de construção de uma nova cultura política. E essa construção está acontecendo, e agora é uma hora mais que oportuna para aprendermos mais sobre política, sobre sistemas políticos, sobre crises, sobre partidos, sobre o que é ser mulher e tentar fazer política em uma cultura machista.
Na crise crie, como dizem alguns sociólogos. Crie rodas de conversas didáticas com mulheres. Você sabe alguma coisa, conhece alguma(s) que sabe(m), convide elas pra conversar. Crie hábitos de conversar sobre política. De provocar o debate com outras mulheres. Vamos criar nossa cultura política, aprendendo e ensinando umas com as outras.
O texto faz parte da coluna Mulheres e Política. Texto de Jussara Cardoso para as Blogueiras Feministas com adaptações minhas – Clara Santos-Jornalista)


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